2.2.Bernstein (1993)

No seu trabalho sobre a sintaxe do DP, Bernstein aborda a problemática dos nomes nulos. A autora examina nomeadamente uma série de frases com nomes vazios em várias línguas, em que o artigo definido tem uma função crucial. Para explicar a variedade de construções elípticas nas Línguas Românicas, Bernstein sugere uma parametrização das propriedades do artigo definido. A sua proposta para a elipse nominal é que o D definido é o subordinador de um constituinte diferente de NP. O artigo definido nas Línguas Românicas é capaz de ligar uma posição aberta --no sentido de Higginbotham (1985)-- e transformar um predicado em argumento. Esse predicado pode ser um A, um PP ou uma oração relativa. A estrutura geral é a seguinte, e é baseada na proposta de Chomsky (1992) sobre adjectivos predicativos:

(6)

Para explicar a variedade de construções elípticas, Bernstein analisa as propriedades subordinadoras de D: em italiano, o artigo definido liga NPs, mas não APs, PPs e CPs, o que explica os casos seguintes:

(7)

a. * Il grande
b. * La decisione del preside e la del ministro
c. * Il panino che ho mangiato e il che mi anno dato


Em Espanhol, o artigo definido liga APs, PPs, CPs, além de NPs, o que explica a existência, nesta língua, de várias formas de elipse do nome. Bernstein não justifica esta parametrização, e limita-se por exemplo a constatar que, em Espanhol, o artigo definido subordina uma oração relativa, ao contrário do Francês:

(8)

a. El grande
b. El de las Meninas
c. Hablé com el que estaba


Em Francês, poderá admitir-se que o artigo definido liga APs, mas não é o caso com PPs e CPs:

(9)

a. [Le [e] grand]
b. * [Les [e] qui sont rouges]
c. * [Le [e] de Durer]

Observe-se que, pelos exemplos seguintes, também em Português o artigo definido legitima um nome vazio seguido de um complemento PP ou CP:

(10)

a. Das canções do José Afonso, prefiro [as [e] que escreveu antes do 25 de Abril]
b. Embora já lesse [os [e] do Camões], a Maria nunca leu os sonetos do Bocage


Embora descreva línguas como o Italiano e o Português, na verdade, parece-me que o modelo de Bernstein não dá conta de todas as formas de elipse do nome, nomeadamente do tipo [D+AP] em Francês. De facto, o modelo de Bernstein, em que o artigo definido transforma o adjectivo ou o constituinte correspondente em argumento, implica que o artigo nominaliza um AP, um PP ou um CP, e exclui a presença de uma categoria vazia de tipo pro na posição básica do nome. Considero que o principal obstáculo levantado pelo modelo de Bernstein é a posição sintáctica que propõe para os adjectivos, que segundo ela seriam núcleos adjuntos. Afigura-se-me por isso que as propostas de Bernstein sobre a sintaxe dos adjectivos devem ser reconsideradas. Admito também que a presença de pro em especificador de AP é contestável --ver (6). Na verdade, este modelo está em ruptura com a análise da elipse do nome como uma projecção NP com núcleo N vazio, o que impede que pro esteja em [Spec,AP].

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