No seu trabalho sobre a sintaxe do DP,
Bernstein aborda a problemática dos nomes nulos. A autora
examina nomeadamente uma série de frases com nomes vazios em
várias línguas, em que o artigo definido tem uma
função crucial. Para explicar a variedade de
construções elípticas nas Línguas
Românicas, Bernstein sugere uma parametrização
das propriedades do artigo definido. A sua proposta para a elipse
nominal é que o D definido é o subordinador de
um constituinte diferente de NP. O artigo definido nas Línguas
Românicas é capaz de ligar uma
posição aberta --no sentido de Higginbotham (1985)-- e
transformar um predicado em argumento. Esse predicado pode ser um A,
um PP ou uma oração relativa. A estrutura geral
é a seguinte, e é baseada na proposta de Chomsky (1992)
sobre adjectivos predicativos:
(6)
Para explicar a variedade de
construções elípticas, Bernstein analisa as
propriedades subordinadoras de D: em italiano, o artigo definido liga
NPs, mas não APs, PPs e CPs, o que explica os casos
seguintes:
(7)
a. * Il grande
b. * La decisione del preside e la del ministro
c. * Il panino che ho mangiato e il che mi anno dato
Em Espanhol, o artigo definido liga APs, PPs, CPs, além de
NPs, o que explica a existência, nesta língua, de
várias formas de elipse do nome. Bernstein não
justifica esta parametrização, e limita-se por exemplo
a constatar que, em Espanhol, o artigo definido subordina uma
oração relativa, ao contrário do
Francês:
(8)
a. El grande
b. El de las Meninas
c. Hablé com el que estaba
Em Francês, poderá admitir-se que o artigo definido liga
APs, mas não é o caso com PPs e CPs:
(9)
a. [Le [e] grand]
b. * [Les [e] qui sont rouges]
c. * [Le [e] de Durer]
Observe-se que, pelos exemplos seguintes, também em
Português o artigo definido legitima um nome vazio seguido de
um complemento PP ou CP:
(10)
a. Das canções do José
Afonso, prefiro [as [e] que escreveu antes do 25 de
Abril]
b. Embora já lesse [os [e] do Camões],
a Maria nunca leu os sonetos do Bocage
Embora descreva línguas como o Italiano e o Português,
na verdade, parece-me que o modelo de Bernstein não dá
conta de todas as formas de elipse do nome, nomeadamente do tipo
[D+AP] em Francês. De facto, o modelo de Bernstein, em
que o artigo definido transforma o adjectivo ou o constituinte
correspondente em argumento, implica que o artigo nominaliza um AP,
um PP ou um CP, e exclui a presença de uma categoria vazia de
tipo pro na posição básica do nome.
Considero que o principal obstáculo levantado pelo modelo de
Bernstein é a posição sintáctica que
propõe para os adjectivos, que segundo ela seriam
núcleos adjuntos. Afigura-se-me por isso que as propostas de
Bernstein sobre a sintaxe dos adjectivos devem ser reconsideradas.
Admito também que a presença de pro em
especificador de AP é contestável --ver (6). Na
verdade, este modelo está em ruptura com a análise da
elipse do nome como uma projecção NP com núcleo
N vazio, o que impede que pro esteja em [Spec,AP].