O
predecessor do clarinete foi a charamela que se pode considerar como o
primeiro instrumento musical de palheta única. Apareceu em finais de
1600 e era muito pouco versátil e funcional uma vez que a tua
tessitura não chegava sequer às 2 oitavas.
Johan
Christoph Denner (Nuremberga) e o seu filho Jacob são apontados como
os “inventores” da chamada “chave de registo” que permitiu à charamela
aumentar significativamente o seu registo tímbrico. Contudo,
curiosamente na charamela ( e actual clarinete) a mudança de registo
faz-se ao intervalo de 12ª ao passo que nos restantes instrumentos de
palheta tal transposição ocorre à 8ª. Dessa forma, por exemplo, com
todos os orifícios tapados e sem a “chave de registo” accionada o
clarinete emite a nota Mi, ao passo que com a chave activa não emite a
oitava superior dessa nota mas sim a nota Si num intervalo de 12ª.
Devido a esta inovação introduzida por J. C. Denner, este último é
considerado como o inventor do clarinete.
O
clarinete é ainda distinto e único em termos da configuração do seu
corpo. Enquanto os outros instrumentos de sopro apresentam uma
configuração cónica (até mesmo a flauta), alargando à medida que se
avança de uma extremidade para a outra, o corpo do clarinete é
cilíndrico, o que justifica a excepcional mudança de registo já
referida e uma unicidade em termos das suas particularidades tímbricas.
Em
finais de 1700 o clarinete sofreu diversas fases evolutivas com a
introdução de novas chaves e alterações ao nível do diâmetro e
posições dos orifícios, por exemplo. Iwan Muller (Alemanha)
desenvolveu nesta fase o clarinete de 13 chaves cuja popularidade se
manteve até finais do séc. XIX.
Entre
1839 e 1843, Klosé e Buffet adaptaram ao clarinete o sistema Bohem (da
flauta) de colocação dos dedos. Apesar deste ser o sistema
habitualmente utilizado hoje em dia, subsistem ainda outros sistemas,
como é o caso dos sistema “Albert” e “Oehler” (usados sobretudo na
Alemanha).
O
“basset horn” é um tipo de clarinete habitualmente afinado em Fá.
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Evolução do Sistema de Chaves
A
evolução da charamela para o clarinete, da responsabilidade de Johann
Denner, traduziu-se na criação de um instrumento que na época (ap.
1690) não tinha mais do que 7 buracos e 2 chaves “operando” num
curtíssimo registo tímbrico de 12ª.
Por
volta de 1700, J. Denner colocou as 2 chaves de tal modo que uma delas
(chamada “chave de registo”) possibilitou o aumento da tessitura do
clarinete para aproximadamente 3 oitavas.
Em
1710, Jacob Denner, filho de Johannn, efectuou várias experiências na
colocação das chaves descobrindo posições que permitiam atingir
registos mais agudos e uma melhor afinação.
Por
volta de 1740 foi introduzida a terceira chave e em 1778 o clarinete
standard tinha já 5 chaves. Não obstante, nesta altura o clarinete era
sobretudo tocado por oboeístas que tocavam ambos os instrumentos
(oboé e clarinete) não havendo a tradição de um instrumentista se
dedicar em exclusivo ao clarinete.
É
curioso notar que foi para o clarinete de 5 chaves que Mozart escreveu
o seu Concerto e Quinteto. É extraordinário imaginar a agilidade e
virtuosismo do instrumentista a quem na altura coube a missão de
executar tais obras, considerando a complexidade dinâmica, tímbrica e
cromática das mesmas, por um lado, e as limitações técnicas de um
instrumento com apenas 5 chaves.
O
clarinete de 5 chaves manteve-se como standard até princípios do séc.
19, altura em que Ivan Muller introduziu lhe importantes modificações,
de tal ordem que é por muitos considerado como o verdadeiro pai do
clarinete moderno.
Ivan
Muller, nascido na Russia, fixou-se por volta de 1809 em Paris, cidade
onde se situavam os principais fabricantes de instrumentos em madeira
da época. Começa então a introduzir alterações na construção do
clarinete, desenvolvendo intrincados mecanismos de chaves, permitindo
combinações técnicas que de outro modo só seriam possíveis com recurso
a dedos suplementares...
Muller apresentou o seu “invento” (um clarinete com 13 chaves) ao
Conservatório de Música de Paris em 1815.... e foi chumbado
redondamente. Tal rejeição não derivou directamente do sistema
apresentado por Muller, mas sim do entendimento que os mestres da
época partilhavam de que este tipo de clarinete, com afinação em Sib,
poderia acabar com os outros tipos de clarinete então existentes (com
diferentes afinações) pondo em causa a variedade tímbrica e recursiva
a que tais diferentes clarinetes se prestavam.
O
passo seguinte da evolução do clarinete foi a adaptação ao clarinete
do sistema Bohem.
Tal
como se referiu anteriormente, a introdução e estandardização do
sistema Bohem decorreu a partir da adaptação do sistema usado na
flauta (cuja criação é atribuída a Theobald Bohm).
A
ideia básica deste sistema é que a colocação dos orifícios do
instrumento é feita em função de critérios acústicos mais do que em
critérios de conforto manual (os orifícios dos clarinetes não Bohem
eram projectados para facilitar o manuseamento mecânico das mãos).
Desta forma, o recurso às chaves para abertura e oclusão dos orifício
reveste-se de particular importância esbatendo assim as dificuldades
mecânicas. O clarinete bohem é hoje em dia composto por 17 chaves.
Este
sistema foi entretanto aplicado não apenas ao clarinete, mas também ao
oboé e saxofone. Um sistema híbrido é ainda utilizado no fagote.
O
sistema Albert, como já se disse, ainda é usado em algumas regiões da
Europa e Estados Unidos. A principal limitação deste sistema de
colocação dos dedos é que “obriga”, em determinadas circunstâncias, ao
cruzamento de dedos (dificuldade que o sistema Bohem ultrapassou) o
que se torna particularmente limitante em passagens mais difíceis que
exijam destreza de dedos.
O
sistema Oehler (pronuncia-se “oiler”) por seu turno, também requer o
cruzamento de dedos e difere bastante do sistema Bohem. A sua
principal particularidade reside na utilização de chaves com
“rolamentos” semelhantes às que se encontram nos saxofones. Este tipo
de clarinete apresenta um conjunto de 22 chaves e é usado sobretudo na
Alemanha.
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O Período Romântico
O
Romantismo pode ser considerado como o período no qual o clarinete
adquiriu a sua identidade e maturidade enquanto instrumento de
eleição.
O
Período Romântico marca assim o apogeu do clarinete. Os
desenvolvimentos e aperfeiçoamentos mecânicos já referidos, o aumento
da tessitura e aparecimento de instrumentistas virtuosos, a par da sua
excepcional capacidade de mistura tímbrica com as cordas, metais e
outros instrumentos de madeira tornaram o clarinete um alvo
preferencial para os compositores da época, de tal modo que este
instrumento adquire, nesta altura, um papel de relevo ao nível de
géneros como a música sinfónica, ópera e música de câmara bem assim
como ao nível da escrita de obras a solo.
Hoje
em dia, ao nível das bandas filarmónicas, o clarinete assume o papel
que, ao nível da música sinfónica, é normalmente confiado às cordas,
particularmente aos violinos.
Dos
instrumentos tradicionalmente usados nas bandas filarmónicas, o
clarinete apresenta-se como um dos que se presta a maiores
virtuosismos técnicos por parte dos seus executantes.
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