Infinito Singular
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O presente livro tenta, através
de uma abordagem que se desenvolve sob a forma de múltiplas entradas, colocar e
estabelecer a noção de “não literário” como o espaço essencial de estudo da
literatura e como via privilegiada de compreensão da mais efectiva influência
do escrito na vida concreta dos indivíduos e, inversamente, desta no escrito. Neste sentido, o trabalho
centra-se na análise de um certo número de questões concretas que, em termos efectivos,
constituem o espaço onde se coloca não apenas a questão literária enquanto
matéria teórica, mas sobretudo, a ligação entre essa matéria e os modos de
existência humana enquanto ligados ao que é enunciado pelo escrito. Neste contexto, interroga-se o
estatuto da palavra enquanto se afasta das suas pré-determinações morais –
entendendo “moral” no seu sentido mais amplo, isto é, ligado às mais diversas
formas de poder. É a essa palavra que chamamos “voz nua”, outra categoria
central deste livro, e que colocamos no centro de uma investigação dos pontos
de ligação profunda entre as esferas da produção, circulação e recepção,
reconhecendo, simultaneamente o deslocamento de categorias fundamentais como o
tempo, o espaço e o sujeito, que se desligam dos seus sistemas de determinação
teleológica e geográfico-empírica para originarem o não espaço e o não tempo
onde ocorre o núcleo do escrito, precisamente o que denominamos “infinito
singular”. Compreende-se,
no horizonte
destes objectivos, a atenção dedicada à
questão colocada pelo incomum e o
limite que este delineia, às noções de
“sedução” e “fascínio”,
bem como às de
“vida”, “corpo” e “silêncio”. Numa palavra, trata-se de recuperar, no mais vivo do literário, tudo aquilo que não sendo especificamente literário, é, no entanto, condição da sua génese, motivo da sua plenitude e justificação da sua importância ontológica. |
CARTA (A CECÍLIA) SOBRE O INFINITO E O LIMITE Falar, repetir Infinito O fascínio do sem-fundo Êxito e fracasso A terceira mão A semelhança imperceptível Metáfora Alma O encontro e a origem temporal O encontro entre a origem e o infinito O que tenho a dizer O INFINITO SINGULAR Do silêncio à palavra escrita A sobrevivência pela escrita Literatura e pluralidade de textos A literatura e a matéria da palavra O argumento moral nas suas várias formas O literário como ruptura do funcional A redução ao cultural: o que não esclarecem os estudos culturais A redução ao literário: o que não esclarecem os estudos literários O não literário O conhecimento poético Ler a arte Discurso e silêncio do texto A não comunidade da compreensão justa O infinito singular O abismo e o deserto Literatura e linguagem O não literário e a vida VIDA E LITERATURA A escrita e a vida A vida contra a metafísica O eu O corpo A pós-modernidade: epocologia e cultura Realismo, narratividade e linguagem Textualidade, linguagem e sentido O universo uno e a neutralidade ontológica do texto Para uma redefinição da realidade: a realidade como interferência Para uma redefinição da existência A precariedade da experiência literária Desconstrução e reconstrução Duas naturezas diferentes? O privilégio do intensivo A simultaneidade dos dois modelos O efeito no sujeito das interferências dos acontecimentos textuais e não textuais A textualidade (que) não é texto Onde existe e o que é o texto A VOZ NUA: A PALAVRA, O CORPO, O SILÊNCIO A criação literária e o projecto estético O corpus e o corpo: o corpo infinito A obra e o ponto de génese A obra e o seu inacabamento O fracasso do projecto estético A salvação do antes do projecto estético Ler o ilegível: a leitura nua A leitura como encontro: o lugar do não literário A palavra contra a palavra A tentação da linguagem e o conhecimento poético As duas características fundamentais da voz nua A voz e a origem Silêncio e linguagem: uma oposição primária A exaustão da palavra A suspeita sobre a capacidade expressiva da linguagem O silêncio, o indizível e a linguagem essencial O desejo de silêncio O silêncio e a “percepção” do imperceptível O silêncio e a nudez A palavra silenciosa Onde a palavra vive o silêncio Não há silêncio |