A História da Esgrima

 

A história do manejo de armas decorre paralela à da própria humanidade.

            A esgrima nasce da necessidade do homem pré-histórico em utilizar armas, ora naturais ora da sua própria criação para se defender, para caçar, para resolver combates e divergências entre tribos...

            O Homem, tentando obter o máximo proveito possível das armas utilizadas, procurou exercitar-se no seu manuseio, valendo-se, no inicio da força e, posteriormente aliando-se à destreza.

A esgrima ao longo da história do desenvolvimento das nações tomou papel preponderante.

 

Vinte séculos antes da nossa era sabe-se que os chineses tinham já os seus mestres de armas.

 

A primeira lâmina de espada que se conhece é de bronze, pertenceu ao rei de Ur em Árcade e foi encontrada no túmulo de Sargão, aparentando ter mais de 5000anos.

            No Egipto há varias imagens, que se supõe terem cerca de 3000anos, de guerreiros empunhando armas pontiagudas com bicos de protecção e utilizando máscaras (Templo de Medinet-Abou construído por Ramsés III no alto Egipto). Havia então um ensaio preparatório para o manejo das armas reais.

 

            Na Índia surgiram os primeiros princípios teóricos do manejo de armas que foram compilados num livro relacionando Deuses e Heróis mitológicos com diferentes armas. Através de Homero (autor de “Odisseia”) sabe-se que havia combates singulares durante as festas para animar a população -os “hoplomachies”.

 

            Na Grécia os “hoplomachies” (mestres de armas) ensinavam ganhando significativa remuneração. Aqui utilizava-se tanto o fio como a ponta das armas. Começou-se a utilizar o escudo, ao qual é atribuído uma grande importância e simbolismo. Exemplo disso é a celebre frase dita pelas mães aos seus filhos antes de eles se dirigirem para o confronto: “volta com o teu escudo ou sobre ele”.

           

            As conquistas romanas contribuíram muito para o desenvolvimento das armas brancas. Os mestres de esgrima (“Doctores Armarum”) treinavam gladiadores e os legionários para a técnica do gládio.

Os Romanos apelavam principalmente ao golpe de ponta. Vegecio escreveu: “os Romanos não somente subjugavam com facilidade os seus inimigos que se valiam do uso de corte, como também se riam deles. Seja qual for a força com que se aplique num golpe de corte, raras vezes é mortal pois as armas defensivas e as vestes o impedem de penetrar. Já com a ponta, ao entrar apenas dois dedos de profundidade causa uma ferida mortal. Por outro lado não é possível desferir um golpe de corte sem descobrir o braço, enquanto que o golpe de ponta é desferido sem se descobrir, além de atravessar o inimigo antes que ele veja sequer a espada...

Foram criados ginásios onde se praticava a esgrima, não apenas para melhorar o exército, mas também como entretenimento e diversão.

Os Romanos aliaram ao escudo, grandes e resistentes armaduras, assim como uma cota de ferro e aço, que se utilizava por baixo das armaduras, protegendo o corpo contra as flechas e auxiliando nos confrontos contra o bastão, lança e o machado.

 

            Com a queda do Império Romano as tribos Germânicas espalharam-se por toda a Europa, sendo aqui a esgrima utilizada não apenas para a guerra mas também para duelos pessoais e para resolver questões judiciais.

A espada – denominada de “Eskermie” ou “Skirmjan”- teve conotação divina á qual de dedicavam hinos e cerimónias. O duelo confundiu-se então como prova material dos desígnios do julgamento de Deus.

Criaram-se armas pesadas de forma a penetrarem nas robustas armaduras e atravessar as malhas de ferro.

A tendência dominante era sobrepor a astúcia e habilidade á força bruta.

 

            No século XIV, com a chegada á Europa da pólvora e com o aperfeiçoamento das armas de fogo deu-se uma enorme revolução na esgrima.

            Ao contrário do que se poderá pensar, com o evento das armas de fogo a esgrima evolui. O uso das armas de fogo fez com que se abandonassem as armaduras, cuja protecção contra as armas de fogo não era tão eficaz e provocava a lentidão das tropas. Devido a isto, os nobres procuraram um manejo mais hábil da espada, de forma a controlarem o povo e a burguesia, que perante a impossibilidade de adquirir armaduras devido ao seu elevado preço se tinham especializado na habilidade do manejo da arma.

 

            No final da Idade Média nasceu a esgrima moderna, com a codificação do conhecimento teórico.

            O testemunho escrito mais antigo que se conhece deve-se ao mestre italiano Fiori dei Liberi e denomina-se o “Flos Duellatorum in armis, sine armis, equester, pedester”. Cultivou-se em algumas escolas valores morais conotados com a igreja “juro pelo o punho desta espada, como se fosse a cruz de Deus nunca empregar esta arma contra o meu mestre”.

            O “afundo” golpe que visa perfurar o adversário com a ponta da arma e que ainda hoje ainda é popular foi introduzido por Camilo Agripa.

            A esgrima desenvolveu-se em quase todos os países da Europa, de destacar a Espanha, onde a esgrima assumiu grande relevo, adquirindo conotações místicas e de grande complexidade, sobre a orientação de mestres como Narvaez e Thibault.

            A arma “Rapiera” foi criada. Esta arma possuía na guarda os “trous”, para apanhar armas adversárias.

           

            Na França houve o aperfeiçoamento da espada, tornando-a mais simples e leve, golpeando apenas com o ponta. A leveza da arma fez surgir um estilo mais complexo e defensivo.

            No século XVII surgiu a espada usada para o treino, que possuía uma ponta de segurança feita de couro num formato de uma flor presa à ponta, que ficou conhecida como “Le Flereut”.

            Dá-se o desenvolvimento de uma escola baseada na subtileza do movimento e na prática, sendo introduzidas noções como esgrima em linha e a guarda.

           

            A grande inovação a nível de treino de esgrima deu-se com a introdução da máscara no século XVII. Esta era semelhante à actual, constituída por uma malha de ferro protegendo toda a cabeça.

 

            O sabre, arma de hoje, podendo ser recto ou curvo com corte lateral é uma arma tipicamente oriental e foi introduzida na Europa pelos Húngaros.

 

            Historicamente a escola Francesa é mais clássica e polida, enquanto que a Itália é cheia de gritos e batidas com aos pés.

Nos últimos dois séculos todas as regras e convenções de esgrima foram desenvolvidas, tendo a França um papel decisivo nesta evolução. Os duelos entraram então em declínio como o meio de resolver disputas, uma vez que se tornou uma actividade proibida.

 

            No final do século XIX, mais precisamente em1896 em Atenas, a esgrima surge no calendário dos Jogos Olímpicos da era moderna por iniciativa do Barão Pierre de Coubertin.

 

            A partir dessa data os duelos praticamente desapareceram salvo raras excepções: há registos de duelos realizados para resolver disputas levantadas durante os Jogos Olímpicos de1920 e, mais recentemente, em 1997 o perfeito da Calábria, na Itália, desafiou publicamente mafiosos locais para um duelo.

            No início do século XX criaram-se as primeiras federações nacionais de esgrima e em 1913 nasceu a Federação Internacional de Esgrima.

            Actualmente a esgrima é um desporto bem desenvolvido e estruturado, que utiliza meios tecnológicas para visualizar o toque através de um aparelho sinalizador.