NÃO NOS LIXEM | NÚMERO 7 - OUTUBRO 1996 |
A energia nuclear é a mais perigosa fonte de energia conhecida. Quando os sistemas de segurança foram desactivados, nada mais que quatro segundos bastaram para que o reactor de Chernobyl explodisse. Desde esse dia , mais de nove milhões de pessoas estão a sofrer.
Vocês estão na disposição de fazer correr este risco à vossa família, aos vossos filhos, aos vossos netos?
Eugenia Dudarova tinha apenas três anos quando, após o desastre, foi evacuada de Pripyate - a cidade mais próxima de Chernobyl. A sua melhor amiga Olga foi também evacuada mas desenvolveu um cancro como consequência.
"Olga e eu éramos amigas desde a nossa mais tenra idade, tanto que nem consigo lembrar-me. Éramos mais do que duas irmãs. Éramos inseparáveis.
"Na primavera, o estado da Olga piorou e os médicos descobriram um tumor fibroplástico, um tumor mortal. Os médicos operaram-na quase de imediato e esteve aliviada durante alguns dias. Mas as dores insuportáveis voltaram de novo.
"A Olga rapidamente ficou paralisada das pernas, depois dos braços. A seguir, a minha mãe anunciou-me que a minha amiga ia morrer dentro de pouco tempo. Eu não conseguia acreditar. A Olga ficava feliz quando eu a visitava no hospital, quando me sentava à cabeceira e lhe passava a mão pelas costas no sítio do tumor. Ela ficava melhor. Sofria terrivelmente e estava quase sempre a chorar. Pedia que a ajudássemos, mas não podíamos ajudá-la. Os médicos recusavam-se a dar-lhe morfina, dizendo que havia falta e que não podiam dar tanta a uma moribunda. Um médico pediu-nos friamente para a levarmos para morrer em sua casa.
"Estava estendida, dentes cerrados, gemendo sem fazer barulho. A Olga esteve quase totalmente silenciosa durante os últimos dias da sua vida: tudo, até o menor barulho, a fazia sofrer. Eu não conseguia convencer-me de que ela ia morrer. Sonhava que um belo dia ensolarado sairíamos deste hospital horrível a correr de mão dada. Mas nenhum milagre chegou e a lenta agonia da minha amiga continuou. Manteve-se consciente até ao último momento. A Olga sabia que estava a morrer e queria acabar rapidamente para escapar do sofrimento. Mas ela tinha ao mesmo tempo este muito forte desejo de viver e inquietava-se por saber como é que eu iria desenrascar-me sem ela.
"Agora não consigo viver sem ela. Sei que nunca mais encontrarei uma amiga como ela. Perdi metade da minha vida, metade de mim própria, metade do meu mundo. Como é que os adultos puderam criar uma tal catástrofe? Não tínhamos feito nada de mal. A minha amiga e eu tínhamos três anos quando o reactor explodiu. E eu? Estou condenada ao mesmo destino?"
"Os problemas de saúde aumentaram praticamente 30%. A frequência de algumas doenças cardíacas aumentou em 103%, a das úlceras em 65%, os casos de diabetes em 61% e os ataques cardíacos registaram um aumento de 75%. Um aumento sensível da morbidez torna-se patente nas crianças." Professor Alexandre Ivanovich Avramenko, Director dos Serviços de Saúde de Kiev |
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