| NÃO NOS LIXEM | NÚMERO 6 - JUNHO 1996 |
Diante das exclamações de indignação por parte da população, a "Lixeira" do Viso, situando-se entre a Escola Secundária do Viso e os limites da zona protegida do Parque Natural da Arrábida, define-se como um verdadeiro exemplo de má gestão autárquica e de perigo constante criado pelos materiais depositados.
A escola secundária do Viso começou a ser construída em 1988, estando nessa altura a funcionar perto do local, uma pedreira. Devido à iminente abertura da escola já para o ano lectivo de 89/90, a pedreira, por questões de segurança, é obrigada a fechar. É então criada a ideia de um vazadouro de entulhos, a fim de salvaguardar a segurança da escola, tapando o enorme buraco deixado pela pedreira. Decorria o ano lectivo de 90/91, quando então a antiga pedreira passa a ter a designação de "Vazadouro do Viso", destinada a entulhos e lixos industriais inertes, considerados não tóxicos, sendo apenas esses os únicos a poderem serem depositados no local.
Completamente desprovido de qualquer vedação que impeça o acesso ao local e com uma deficiente vigilância, tem-se verificado ao longo do tempo que o vazadouro não serve apenas como depósito de entulhos inertes, mas também para qualquer tipo de resíduos que se queira colocar.
A Câmara Municipal de Setúbal, responsável pela gestão do "Vazadouro", recusa propostas de empresas que poderiam fazer uma melhor gestão desses entulhos e limita-se a manter uma vigilância na área das 8h00 às 17h30, onde a sua forma de gerir o local é manter uma máquina que vai tapando os entulhos (e restantes lixos) com terra. Além disso, vê-se impossibilitada de fazer alguma coisa, tanto mais que "oficialmente" não tem entrado nada de anormal ou tóxico no local, visto o vazadouro ser unicamente para entulhos inertes.
Dos resíduos existentes contam-se os seguintes: frigoríficos que contêm CFCs, os quais prejudicam a camada de ozono; nafta (um derivado do petróleo), em que, devido ao terreno de calcário, inerente a riscos de infiltração, pode contaminar os lençóis freáticos existentes; os materiais orgânicos (madeiras, restos de comida), quando são tapados, não são propriamente o material mais correcto para solidificar os taludes, provocando a instabilidade no terreno, além de que a sua decomposição pode originar a profusão de gases, tais como o metano, provocando também o risco de auto-inflamação.
Que o digam os professores do grupo de biologia da Escola Secundário do Viso, Prof. António Canhão e Prof. Madalena Viegas, que nas declarações prestadas, afirmaram que já por duas vezes a escola se viu obrigada a fechar por causa dos fumos (tóxicos) provenientes dos incêndios do Vazadouro-Lixeira, que ocorrem todos os anos. Existe também o perigo do acesso fácil ao terreno, colocando em risco tanto a segurança dos alunos da escola, como a da população local.
Com toda esta situação, o professor António Canhão comenta: "ou assumem que isto é só para entulho ou então assumem que dá para tudo e assim não pode ser". A professora Madalena Viegas pergunta: "como puderam permitir uma coisa destas ao lado de uma escola?".
De facto, passaram-se 6 anos desde que tiveram a (in)feliz ideia de transformar uma pedreira num "Vazadouro" de entulhos, onde a situação tende a agravar-se de dia para dia.
Amândio Pereira
CONSULTA PÚBLICA SOBRE A INCINERADORA PREVISTA PARA S. JOÃO DA TALHADia 25 de Junho em S. João da Talha
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