Diário de Aveiro, 28 de Julho de 2001

Águeda/Bairrada

 

No próximo ano

Estação Arqueológica abre ao público  

Durante o próximo ano, deverão estar reunidas as condições mínimas, para que a Estação Arqueológica de Cabeço do Vouga, Águeda, possa receber os primeiros visitantes. Desde há três anos que o trabalho tem sido intenso e, em 2002 o público vai poder observar as descobertas.

JORGE PIRES

A constatação foi feita ao fim da manhã de ontem, durante uma visita promovida pela Câmara Municipal para atestar do trabalho que os investigadores tem vindo a desenvolver nos últimos tempos no Cabeço do Vouga. Um trabalho que, nos últimos três anos, tem merecido uma atenção redobrada e que, durante o mês de Julho, como já aconteceu em anos anteriores, tem tido um reforço na equipa que ali se encontra a trabalhar, com a vinda de estudantes espanhóis (Ponte Vedra), Tomar e de jovens aguedenses que, desde forma, ocupam os seus tempos livres, ajudando na descoberta dos vestígios deixados pêlos antepassados.

A novidade, anunciada na oportunidade, é o facto de existir a possibilidade da Estação abrir definitivamente portas ao público no próximo ano.

Quem avança a possibilidade é Fernando Silva, arqueólogo responsável pêlos trabalhos naquele local, sustentando que, para tanto, "terão que ser revistos os acessos ao local, bem como avançar com a construção de uma espécie de núcleo mu-seológico, onde ficarão patentes os objectos que entretanto têm sido encontrados. O ante-projec-to deste espaço está já em elaboração, pretendendo-se ao mesmo tempo criar uma espécie de passagens pedestres adequadas para que os locais preservados não sejam "violados".

Nesta altura, segundo as contas do arqueólogo, estarão a descoberto ruínas em cerca de 600 metros quadrados, numa área total que deverá rondar os dois hectares.

No local, designado por Cabeço do Vouga, encontram-se vestígios de ter sido um sítio onde as populações se estabeleceram desde a Idade do Bronze até à Idade Média. Será, contudo, durante a Idade do Ferro e a época romana que mais expressiva se tornou a ocupação do sítio, tanto no cabeço aplanado designado por Cabeço Redondo, como no que lhe fica fronteiro, a sul, designado Cabeço da Mina.

Em ambos os sítios foram levadas a cabo acções arqueológicas, a partir dos anos 40. Os trabalhos realizados por esta altura estariam na origem da classificação do Cabeço do Vouga como Imóvel de Interesse Público, dada a monumentalidade das ruínas postas a descoberto. Posteriormente, nos anos 60, novos trabalhos terão lugar no sítio da Mina, embora sem continuidade. Só nos finais dos anos

90 serão retomados os estudos arqueológicos, agora de forma sistemática, com vista ao conhecimento do povoamento do sítio, em particular, e do Cabeço do Vouga em geral.

Ao longo destes últimos anos, muito e diversificado tem sido o material arqueológico recolhido

nas várias áreas intervencionadas. O mesmo distribui-se por uma cronologia alargada sendo a Idade do Ferro e, em particular, a Época Romana Imperial, aquelas para as quais os dados se apresentam melhor documentados.

Por tudo isto e o mais que se verá, com a continuação dos trabalhos, o sítio arqueológico da Mina, em particular e o Cabeço do Vouga, no geral, "constituem pólos significativos de uma estratégia de povoamento da região do Baixo Vouga, que importa conhecer em profundidade, na sua dimensão diacrónica e cultural", remata Fernando Silva