SOBERANIA DO POVO, 5/01/2001 

Património Histórico de Águeda

Fernando Silva

Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga

A campanha 5 (2000) da Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga, para além da prossecução das acções estritas de escavação arqueológica, englobou ainda os primeiros passos no sentido da conservação, restauro e consolidação das estruturas arquitectónicas, não só daquelas postas a descoberto nas campanhas de Rocha Madahil/Sousa Baptista e Mário de Castro Hipólito, como ainda nas referenciadas nos trabalhos dos últimos cinco anos.

Para a realização destas tarefas contou-se com a prestimosa colaboração de técnicos especializados em conservação e restauro da Escola Superior de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Galiza, sob a direcção técnica de Carmen Bouzas--Bello, respectivamente Rebeca Nores Gonzalez e Maria del Mar Rivas Ro-driguez, com o apoio de estudantes universitários do Porto e de Coimbra, área de Arqueologia.

Arqueologicamente, a campanha deste ano 5 (2000) centrou-se na escavação de duas grandes áreas, todas elas estabelecidas no Sector I, ao nível da cota altimétrica dos 67 metros a.n.m.m., ou seja, no troço sudeste da malha quadriculada nos anos anteriores e ainda na metade norte-noroeste da mesma malha.

Deste modo alargou-se a área de escavação a quadrantes nunca anteriormente escavados, de que resultaram dados do maior significado para a compreensão do estabelecimento humano no sítio da mina e da sua diacronia larga. Durante a campanha foi ainda efectuado o estudo de uma das estruturas semicirculares da fachada monumental do castellum romano - face voltada a noroeste - o que permitiu avaliar alguns dos pressupostos anteriormente por nós estabelecidos, a partir dos trabalhos então realizados. 

Restauração e consolidação

A campanha, que arrancou no mês de Julho (à semelhança dos anos anteriores), prolongar-se-ia ainda até Outubro, altura em que foram dados por concluídos os trabalhos da 1a. fase de conservação, restauro e consolidação das entidades arquitectónicas. 

Contudo, dadas as óptimas condições em que as acções têm vindo a ser efectuadas desde o ano de 1999, com a cobertura das áreas escavadas e a escavar, as intervenções arqueológicas no Cabeço do Vouga, no sítio da Mina, têm um carácter contínuo e sistemático, continuando a decorrer, a tempo inteiro, com os meios disponíveis. 

Do ponto de vista dos resultados já obtidos, até à altura em que se escreve esta nótula, merece particular destaque o facto de ter sido assinalado uma estrutura de planta circular, enquadrável nos modelos habitacionais da Idade do Ferro, assim como os vestígios de uma outra estrutura habitacional - esta de planta rectangular com restos de pavimento em barro argamassado e superfície pintada a vermelho, sob o piso da qual se assinalou um pequeno tesouro monetário, composto por quatro numismas de prata, a par de contas de colar em vidro e um separador decorado, em xisto.

Ao nível ainda das estruturas arquitectónicas postas a descoberto durante esta campanha, realce para a confirmação da existência, em época tardia - tardo-romano-altimedieval - de uma quarta "sapata" de um pórtico monumental voltado a nordeste, assim como outros evidentes vestígios de actividade arquitectónica medieval. 

Antes de Cristo

Os espólios recolhidos, de que já se referiram alguns espécimens, continuaram a caracterizar-se pela presença abundante de fragmentos cerâmicos, quer na forma de cerâmica industrial quer na forma de olaria comum de cozinha e de mesa, a par de louças típicas dos mercados distribuidores além região - cerâmicas de tradição mediterrânica, enquadráveis no l.° milénio antes de Cristo e que constituem um fundo significativo, a par de fragmentos de recipientes de mesa, como as sigillatas sudgálicas, enquadráveis no séc. I; as sigillatas hispânicas e ainda as formas tardias do séc. IV.

O vasilhame de transporte foi também docu-tado, se bem que em menor escala, a partir de fragmentos de ânforas - bocais e bico fundeiro - atestando a existência de relações comerciais interregionais e supraregionais. A actividade metalúrgica, ferro e bronze, está abundantemente documentada a partir das diversas escórias e "pingos de fundição", significativamente referenciados durante as acções desta campanha.

 

Acções futuras

O facto de as acções de estudo, em particular, da estação arqueológica do Cabeço do Vouga, sítio da Mina, decorrerem ao abrigo da acção directa das alterações climatéricas, tem vindo a proporcionar um trabalho continuado e sistemático, o que permitirá que, a curto/médio prazo, seja possível estabelecer-se em moldes científicos, um quadro cronológico e cultural para o sítio, para o que prestarão um contributo