Situado em pleno Atlântico, a 760 milhas naúticas do Continente Europeu e a 2110 milhas da América do Norte, o Arquipélago dos Açores emergiu das profundezas do mar há milhares de anos, na sequência de violentas erupções vulcânicas.
E a terra ainda está bem viva nas ilhas dos Açores, manifestando-se diariamente sob as mais diversas formas de actividade vulcânica secundárias (furnas, fumarolas, nascentes de água quente, etc....).
Não existem provas científicas de que os Açores sejam o remanescente do mítico continente da Atlântida que, outrora, teria sido o berço de uma próspera e culta civilização, entretando desaparecida nas profundezas do oceano.
Curiosamente, no livro de banda desenhada, «O Enigma da Atlântida», das aventuras de Blake e Mortimer, a Ilha de S. Miguel é uma das portas de saída da Atlântida. Mesmo que os Atlantes tenham algum dia habitado nos Açores, não foram descobertos, até à data, quaisquer vestígios arqueológicos.
A ilha de S. Miguel é a maior do arquipélago (759,4 quilómetros quadrados de superfície, com 65 quilómetros de comprimento e 16 quilómetros de largura máxima) e aquela que vamos percorrer neste nosso primeiro desembarque nos Açores.
As Portas da Cidade, onde sobressai o arco central construído no século XVIII e a Igreja Matriz de São Sebastião estão no centro da zona mais comercial da cidade, mas é, sobretudo, pela avenida Infante Dom Henrique que o trânsito flui do porto até à nova zona das piscinas e da marina, construídas numa área antigamente ocupada pelo antigo porto de pesca da Calheta de Pero de Teive, cuja memória foi imortalizada em postais e fotografias de época.
Saindo de Ponta Delgada em direcção à Povoação (a vila onde desembarcaram e se estabeleceram os primeiros habitantes da ilha), a estrada segue sempre junto à costa, passando pelas praias do Pópulo (a pequena e a grande); pela vila de Lagoa com as suas piscinas naturais, onde as rochas oferecem uma curiosa atracção natural que dá pelo nome de «sopro da baleia», e por localidades como Água de Pau e Ribeira Chã.
Vila Franca do Campo (que foi a primeira capital da ilha, no século XVI) e o seu ilhéu são paragem obrigatória. O casario, o colorido dos barcos de pesca artesanal, o relicário dos pescadores e o pequeno cais de embarque, são apenas alguns dos pormenores que fixam a atenção do visitante.
O Ilhéu de Vila Franca abriga, no interior, o que deverá ter sido uma pequena caldeira e é, hoje, uma autêntica piscina natural em forma de concha.
As Furnas concentram as atenções de muitas famílias de micaelenses, que ali dispõem de uma casa de fim-de-semana. Esta localidade é, igualmente, um importante centro termal intimamente ligado à actividade das suas furnas e nascentes.
Ribeira Quente - esta pequena freguesia deve o seu nome às furnas subaquáticas que afloram na orla da praia, autênticas nascentes de água escaldante que brotam no oceano, para grande contentamento dos banhistas (cuidado para não escaldar os pés!). Depois de uns bons mergulhos, o nosso percurso segue pela estrada sinuosa, entre campos e pastagens.
Chegados à Povoação, passando por uma das sete lombas que a rodeiam (verdadeiros miradouros sobre a vila e os vales circundantes), encontramos a ermida de Santa Bárbara, construída no século XV e considerada o primeiro templo erguido em S. Miguel.
Se visitar S. Miguel antes da Páscoa, cruzar-se-á certamente com os tradicionais grupos de romeiros que, durante as semanas da Quaresma, percorrem a ilha a pé, rezando junto das igrejas e capelas das localidades por onde passam.
O Nordeste, anteriormente conhecida como a 10ª ilha do Açores - pela escassez de vias de comunicação e a consequente demora para lá chegar - é, hoje, uma das mais deslumbrantes regiões de S. Miguel e um dos melhores exemplos de ordenamento do território.
Do alto dos miradouros da Ponta da Madrugada, Salto da Farinha, Tronqueira ou Pico Bartolomeu, pode admirar-se o mar, as falésias e as fajãs (pequenas línguas de terra no sopé das falésias onde foram construídas algumas casas).
A estrada que serpenteia até à praia do Lombo Gordo é uma das mais características da zona. A descida é íngreme, mas o regresso requer muito mais atenção, alguma tracção e um bom motor, para não correr o risco de parar a meio da subida.
Lagoas encantadas
As lagoas das Sete Cidades, das Furnas e do Fogo constituem os principais «ex-libris» de S. Miguel.
As primeiras, célebres pelos seus cambiantes de verdes e azuis, devem a sua beleza ao panorama que se disfruta do miradouro da Vista de Rei (numa alusão à visita do Rei D.Carlos, em 1901).
Junto às margens, a visão idílica esfuma-se, como que por encanto, retirando o colorido tradicional às águas destas antigas caldeiras. Sobressai, então, o verde das pastagens e o branco do casario da pequena aldeia que nasceu nas suas margens.
Por sua vez, a lagoa das Furnas. Além das suas margens calmas, dos passeios no Vale dos Fetos (que atingem, aqui, dimensões dignas de um Parque Jurássico)As furnas, propriamente ditas, umas em permanente ebulição, libertando nuvens de vapor e enxofre, outras vocacionadas para a confecção do célebre cozido das furnas e as restantes libertando apenas ténues fumarolas; as fontes de água quente, a escaldar ou completamente gelada; a piscina de água ferrosa; e a pitoresca Poça da Beija, uma pequena gruta parcialmente submersa, berço de uma nascente de água tépida que faz as delícias de quem nela mergulha. É um verdadeiro «jacuzzi» natural!
Finalmente, a lagoa do Fogo. É, talvez, a mais fascinante em toda a ilha e seguramente a mais pura e preservada. Pode ser admirada a partir da estrada que liga Lagoa à Ribeira Grande, mas merece um demorado passeio pedestre nos trilhos que percorrem as suas margens.
Num vale circundante, brota a nascente da água das Lombadas, uma das melhores águas gasosas naturais do Mundo.
Nos anos mais recentes, a maior ameaça que paira sobre as lagoas de S. Miguel é conhecida como o fenómeno da eutrofização, provocada pelo excessivo crescimento de algas e outras plantas aquáticas alimentadas pelos caudais de adubos e fertilizantes usados na agricultura.
No centro da ilha, as estações de aproveitamento da energia geotérmica são já responsáveis por 15 por cento das necessidades de S. Miguel, percentagem que deverá chegar aos 40 por cento, no próximo ano.
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