Soberania do Povo, 3/08/2001

 

Uma estação arqueológica de grande potencial

Cabeço do Vouga arca de tesouros

A Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga abriga cerca de uma trintena de jovens, que, sob o comando do arqueólogo Fernando Pereira da Silva, vão varrendo e filtrando o pó da História, à procura de vestígios de civilizações que remontam há mais de quatro mil anos. Uma estação que já merece um museu.

O sítio do Cabeço do Vouga fica algures, depois de Águeda, a Norte, após a descida para o Marnel e para o Vouga, antes da ponte do Marnel, do lado direito, a seguir a um casario de adobe, junto à ermida do Espírito Santo.

O presidente da Câmara, Castro Azevedo, acompanhado de Elói Correia, vice-presidente e de Nair Barreto, vereadora da cultura, entre outros elementos da Câmara, foi visitar os trabalhos arqueológicos em curso no passado dia 27 e, para o efeito, convidou a comunicação social.

Uma enorme cobertura protege as escavações que vão sendo feitas. Vestígios de casas circulares, feitas de muros "de dupla face, rudemente talhados, com alguma argamassa à base de terra e pedra miúda". Alguns jovens, com pequenas vassouras e peneiras, vão limpando de areias, os restos daquelas construções.

Cátia Gomes, tem 16 anos e é estudante da escola Marques de Castilho. "A minha função, é varrer, para preservar", disse, enquanto, concentrada, continuava a labuta. "Isto é um antigo muro da época romana". Já encontraram algumas coisas? "Sim, umas jarras, uma moeda...". Com ela, ocupam os seus tempos livres mais sete portugueses e cerca de 20 espanhóis. Nair Barreto, ao lado, explicou a razão da presença dos jovens espanhóis: "Eles estão cá, na base de um protocolo que estabelecemos com uma universidade da Galiza".

 

Abertura talvez para o ano

Fernando Pereira da Silva é o arqueólogo da Câmara Municipal e fez as honras da casa. "É uma área com cerca de dois hectares, que estamos a explorar, existindo dois núcleos: o pré-romano e o grande núcleo romano, que vai do século I ao século IV e que é este sector".

As descobertas arqueológicas vão até à idade do Bronze, há mais de quatro mil anos, mas, infelizmente, a protecção não é tão eficaz como seria de desejar, "tendo já desaparecido diversas peças". Como peças de realce, Pereira da Silva nomeou algumas peças em bronze, a aplicação da sítula, que é uma espécie de caldeirão e um motivo animal trabalhado.

"Há referências antigas que apontam estes muros do Marnel, no século XVI, que serviam de divisória entre os proprietários de vinhas", foi elucidando o arqueólogo, informando também que a actual equipa de restauro é gerida pela Universidade de Pontevedra. Continuando, referiu também que "foram decobertas cerâmicas importadas da Gália e do Norte de África" e que as casas circulares eram datadas do final da idade do bronze, início da idade do ferro. "Há aqui uma época de transição, pois essas casas têm uma cobertura própria da idade romana".

Sobre a hipótese de exposição ao público do material descoberto, Fernando Pereira da Silva admitiu que "é possível abrir ao público, para o ano".

O presidente da Câmara informou que a cobertura havia custado quatro mil contos e que haviam já comprado os terrenos adjacentes, acrescentando Nair Barreto que "está prevista uma rubrica para o museu", tendo Pereira da Silva complementado essa informação, dizendo que "vai ser criado o museu na vertente oeste, com percurso pedreste, onde as pessoas poderão circular por esta estação"-A seguir a um almoço ao ar livre, Castro Azevedo agradeceu à juventude a sua disponibilidade, prometendo que "vamos criar condições para tornar este local aprazível e de visita obrigatória".