SOBERANIA DO POVO, 14 de Janeiro de 2000  


Património Fernando Silva  

A Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga

Escavações efectuadas assinalaram inúmeros vestígios, particularmente cerâmicos 

Ano de 1999 foi o da interdisciplinaridade possível - Protocolo com um escola espanhola 

O ano de 1999 abriu novas perspectivas ao estudo da Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga tendo-se dado passos decisivos nesse sentido. 
Se nos três anos anteriores as acções se caracterizaram, em larga medida, pelo seu cariz sazonal, derivado de condicionalismos vários, mas que apesar de tudo, deram os seus frutos, agora, ultrapassada que se encontra essa fase inicial entrou-se na implementação de um programa de acção continuada, de resto de acordo com as "exigências" postas por uma estação arqueológica com as características do "oppidum" do Cabeço do Vouga: povoado de média altura com uma área construida que rondará os quatro hectares, distribuidos por duas plataformas e onde, a par de terrenos virgens para estudo, se encontram ruínas em avaçado estado de desmoronameno, a exigirem cuidados urgentes de consolidação e restauro.  

COBERTURA DAS RUÍNAS 

Pese embora a boa vontade das várias equipas de jovens benévolos, que todos os anos durante o mês de Julho, têm demandado o local, contribuindo desse modo para a revivificação de um património comum, nos restantes onze meses do ano, o "oppidum" ficava entregue à sua sorte, implodindo-se aos poucos, tudo aquilo que num mês, a custo, se tinha erguido. 
Deste modo, medidas como a cobertura das ruínas existentes, vieram não só permitir que o desgaste do tempo surta menor efeito, como criar condiçõs favoráveis à realização de acções de estudo, conservação e restauro, nas  áreas assim abrangidas, sem limites temporais alguns. A assinatura de um protocolo de colaboração, com a Escola Superior de Conservación e Restauración de Bens Culturais de Galicia, por tempo indeterminado, veio assegurar necessários, quão urgentes, trbalhos de restauro e conservação das ruínas, em moldes científicos; a realização de sondagens geofísicas, para averiguar das descontinuidades do subsolo e da existência de alterações mecanicas no mesmo com vista à detecção de áreas de maior potencial arqueológico, são um contributo preciosíssimo para o conhecimento da estação arqueológica. 
Por tudo isto, a campanha 1999, que arrancou em Julho e em que participaram jovens vários graus de ensino e diferentes proveniências geográficas, licenciados em História e em Arqueologia, técnicos de conservação e restauro e especialistas de Geofísica, marca uma etapa significativa no estudo de uma das estações arqueológicas mais significativas do Entre-Douro e Mondego.  


OS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS 

Alargaram-se os sectores escavados, pondo-se a descoberto novas estruturas e complementou-se o conhecimento de outras apenas sondadas na década de 40 e das quais se possuíam parcos elementos para a sua compreensão; levantou-se a planta exaustiva de todas as estruturas então existentes, constituindo assim o primeiro plano de pormenor fiável, que conhece a estação entre 1941 e 1999, a única planta conhecida era a que foi elaborada por Rocha Madahil e que, pese embora a sua imprecisão, era que se encontra em obras como "O Portugal Romano" ou o Inventário dos Imóveis Classificados, à falta de uma planta exaustiva e fiável; os aterros das escavações antigas têm vindo a ser desmontados, com vista ao alargamento das áreas a escavar, no sector ocidental da plataforma do Cabeço da Mina; foi efectuada a diagnosis rigorosa de todas as estruturas visíveis da estação, para o estudo das técnicas de conservação e restauro a aplicar; toda a plataforma foi sondada pelo método da resistividade eléctrica, com o objectivo de serem estabelecidas novas áreas de escavação arqueológica. 
No decurso das escavações, foram assinalados inúmeros vestígios arqueológicos, particularmente cerâmicos: louça de cozinha e de mesa, ânforas, cerâmica de cobertura (tegulae e imbrices) e de pavimento (lateres), tudo peças de um gigantesco puzzle que levará o seu tempo a descodificar, no caminho do conhecimento das populações que, no Entre -Vouga e Marnel, estabeleceram os seus laços de família e vizinhança, legando um património sobre o qual, em última análise, entroncam as modernas populações da região, de que o "oppidum" do Cabeço do Vouga constitui um arquivo inesgotável. 
- Fernando Silva (arqueólogo)